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Educadores(as) de Valor 2022

Conheça os(as) 15 educadores(as)
mais indicados(as) em 2022

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Região do Maranhão

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Tayane Cabral Silva

Rabelo Pereira

Escola: UEB José Maria Ramos Martins

Cidade: Paço do Lumiar (MA) 

Ciclo: Ensino Fundamental II 

Função: Professora

Desde criança, Tayane Cabral Silva Rabelo Pereira brincava de dar aula para suas bonecas e, com os amigos da vizinhança, sempre queria ser a professora. Esse desejo pela educação, entretanto, foi deixado um pouco de lado na adolescência. “Nessa fase a gente se espelha muito e eu via que os outros não queriam seguir na educação e pensava: ‘Meu Deus, será tão ruim assim que só eu quero?’.” Hoje ela tem certeza que fez a escolha certa e ainda afirma: “O que nos motiva é muito maior do que as dificuldades.” 

 

No início dos seus 12 anos de profissão, Tayane se encantava por poder contribuir com o aprendizado de pessoas, mas depois, com a experiência, foi percebendo que o professor é um agente de transformação e, atuando na rede pública, afirma que é possível ver claramente como a educação é um divisor de águas na vida de jovens, que passam a repensar seus caminhos e a reconhecer a importância do conhecimento. 

 

A possibilidade de se eternizar na vida de seus estudantes é um ponto alto da profissão, inclusive observada por pessoas que a indicaram na Campanha Educador de Valor: “Tayane se faz presente nas atividades curriculares e extracurriculares, incentivando a participação dos alunos e também dos demais colegas,como, por exemplo, nas Olimpíadas de Letras. Ela se preocupa não só com o processo de aprendizagem na disciplina, mas também com o engrandecimento dos alunos como pessoas. Leva em consideração que eles são extremamente importantes para sua jornada, fazendo atividades intuitivas para motivá-los e também mostrar que com a educação é possível mudar o futuro.” 

 

Como professora de Língua Portuguesa, ela realiza uma atividade chamada Desafios de Língua Portuguesa, proposta semanal em que os estudantes exercem seus conhecimentos, 'colocam a cabeça para funcionar’ e, sobretudo, trabalham autonomia e protagonismo. Ela conta que ex-alunos que a encontram nas redes sociais sempre mencionam a atividade com carinho. 

 

“Usamos metodologias ativas para colocar o estudante como protagonista. No Ensino Fundamental II, consideramos que já são adolescentes, fase em que precisam desse estímulo, de adotar uma postura mais ativa para que assumam as responsabilidades no futuro. No geral, vejo que eles gostam muito da atividade, que é em formato de competição, e se animam pelo fato de perceberem que se superam a cada desafio. É essa semente que queremos plantar, dizendo que são capazes e que podem mais.” 

 

Outra estratégia para despertar a atenção dos alunos é usar seus interesses em sala de aula, como é o caso da análise de letras de música bumba-meu-boi com o chamado sotaque de matraca. “Os alunos frequentam os ensaios do boi, que começa em meados de abril. É algo que eles gostam, então, foi bem interessante o trabalho porque é contextualizado à realidade deles”, comenta.

 

A parceria com as famílias é, para Tayane, a maior dificuldade enfrentada pelos educadores, pois, mesmo com diferentes oportunidades de frequentar a escola, muitas vezes, por diferentes motivos, diversas famílias continuam ausentes. 

 

“Acho que todo mundo sabe a importância da educação, mas mesmo assim não coloca o educador como um profissional de valor. Valorizar a educação é usar de situações para motivar seu filho que quer ser educador, valorizar as falas do seu professor, comparecer às reuniões, incentivar o professor em sala de aula. É valorizar em todos os sentidos e perceber que essa é uma profissão essencial que forma todas as outras. Não é para ser colocada em posição inferior ou em última escolha.”

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Fábio de Melo da Silva

Escola: UEB Tácito Caldas

Cidade: Paço do Lumiar (MA)
Ciclo: Ensino Fundamental II

Função: Professor

Para que Fábio de Melo da Silva atuasse como educador uma pessoa marcou muito sua vida: a professora Lídia, da Educação Infantil, a qual exerceu, por diversas vezes, papéis para além da sala de aula, como o de tia e de mãe. Quando ele não tinha o que comer, era a 'tia Lídia' que o recebia em sua própria casa e o alimentava.  

“Esse é um dos exemplos que vivenciei que extrapolam o campo da educação cotidiana, e passa a ser uma relação familiar”, relembra Fábio, formado em História pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA) no ano de 2018 e, atualmente, graduando em Pedagogia. A rotina de Fábio é intensa: diariamente ele percorre de ônibus três municípios da região metropolitana de São Luís (MA) para lecionar em dois colégios e estudar à noite.

Uma das localidades onde Fábio atua é na Unidade de Educação Básica (UEB) Tácito Caldas, após passar no concurso da prefeitura de Paço do Lumiar. A outra escola fica há alguns metros dessa. E olha que o educador ainda tentou conciliar o mestrado em História com as aulas e com a segunda graduação. 

Fábio nasceu em uma família humilde e trabalhadora. Sua mãe sempre tirou o sustento cuidando de casas de outras pessoas ou como marisqueira. A educação apareceu em sua vida como um sinônimo de mudança, e programas sociais e políticas de Estado como o Bolsa Família, Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) e o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) contribuíram para a sua formação, visto a situação financeira familiar.

“Existe uma ideia de que a gente [educadores] trabalha por amor. No meu caso não passa só por eu amar a minha profissão. Eu tenho um problema de saúde desde novo, a hemofilia [um distúrbio genético e hereditário que afeta a coagulação do sangue], e isso me prejudicou muito durante a escola, já que um dos seus efeitos é a hemorragia. Quando eu era criança, o tratamento era muito precário no Brasil, principalmente no Maranhão”, conta Fábio.

Devido à doença, o jovem precisou, inúmeras vezes, se ausentar da escola para se tratar, e quando retornava, tinha que “correr atrás do prejuízo" e se atualizar sobre os conteúdos e atividades. Naquele período, Fábio já pensava em uma profissão na qual poderia atuar com a doença, e que o ajudasse a melhorar as finanças e possibilitasse a continuação dos estudos. Foi nesse momento que a docência surgiu ao jovem.

“Hoje sou um professor porque reconheço o quanto a educação é transformadora na vida das pessoas, tanto do ponto de vista cultural quanto humano”, atesta. 

Enquanto docente, algo que o marca é como a desigualdade se manifesta na escola, seja na estrutura escolar, no ensino e na valorização dos educadores. “Muitas vezes falta o básico para os estudantes, como caderno e lápis, alguns chegam na escola sem tomar um café da manhã sequer, o que afeta o aprendizado. E tudo isso faz com que lutemos por uma educação de qualidade, por menos desigualdades sociais, e que temos que avançar e investir muito em educação”, analisa o historiador. 

Apesar das dificuldades, o reconhecimento da comunidade escolar é grande. Uma pessoa, ao preencher o formulário de indicação dos educadores, reconhece a garra do Fábio em ensinar: “O professor desenvolve atividades que  fomentam a colaboração, engajamento e o trabalho em grupo. Ele sempre promove espaços de apresentação e também utiliza filmes para o trabalho com as temáticas referentes à história."

O educador tem fresquinho na memória professores que o inspiram até hoje, além da Lídia: Osana, Maria José, Célia, Maria Isabel de Oliveira e Flávio Soares. “Quando eu estou em sala de aula busco o exemplo dos meus grandes educadores e tento passar esses ensinamentos para os meus educandos. Os professores, de modo em geral, são sempre inspirações, principalmente para quem vai tendo essa vontade de atuar na educação. O Flávio, por exemplo, tem um impacto enorme na formação de inúmeros historiadores do Maranhão. Ele me tirou de um estado de alienação que eu me encontrava quando foi o meu professor, e até hoje peço conselhos, indicações de leituras e conversas. É uma referência sem dúvida.”

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Sâmara Tanabe Viega

Escola: Escola Casa Familiar Rural

Cidade: São Luís (MA)
Ciclo: Educação de Jovens e Adultos (EJA)

Função: Gestora Geral


Educadora há oito anos, Sâmara Tanabe se viu como uma profissional da educação após se casar com o marido e professor, Carlos Alberto. Foram 20 anos de vida juntos até o seu falecimento, em 2021, em decorrência da Covid-19. Uma morte abrupta, mas que ensinou muito à companheira, formada, primeiro, em Administração de Empresas, curso com o qual sempre sonhou.

 

Ao vivenciar o cotidiano do marido e a dedicação dele à educação, cada vez mais Sâmara foi tendo a certeza que desejava mudar os seus planos profissionais. Se formou em Pedagogia pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), depois vieram as pós-graduações em Educação de Jovens e Adultos (EJA), Gestão Pública, Educação para o Campo e, por fim, Gestão Hospitalar.

 

Sâmara é daquelas pessoas que ao verem um desafio, se prepara para enfrentá-lo, por isso do curso de Gestão Hospitalar, para caso ela mude um pouco a carreira futuramente. Foi assim que ela fez quando chegou à Escola Casa Familiar Rural, momento em que se aprofundou em temáticas ligadas à educação no e do campo.

 

“A educação sempre foi e é fundamental para a minha história. Eu me casei com um excelente professor, quando me envolvi com essa área. O Carlos Alberto me deixou esse legado, o da educação. E hoje, por meio da Pedagogia da Alternância [processo de formação em que se alternam sequências de módulos ministrados por instituições, e muito comum em escolas rurais], sinto que posso e faço a diferença na vida e na aprendizagem dos estudantes.”

 

Além do apoio de Carlos Alberto, a gestora busca em sua vivência familiar referências da época em que viveu na zona rural. “Nós trabalhamos com alunos que são filhos de pequenos agricultores, assim como eu. O meu pai formou os três filhos com o seu cultivo de hortas. Por isso, eu me identifiquei com os estudantes e a escola, e pude entender que teríamos um potencial enorme com esses estudantes”, explica. 

 

“A Sâmara promove muitas atividades, além de suas obrigações como gestora. Já levou os seus alunos para terem diversas experiências, sejam elas educacionais ou de lazer. Oportuniza o aprendizado em tudo que desenvolve, e constrói verdadeiros vínculos entre ela, os seus alunos e colaboradores”, manifestou uma pessoa ao indicá-la para a Campanha Educador de Valor 2022.

 

Entre as atividades que organiza, estão os encontros com ex-alunos da Casa Familiar Rural, que contam, felizes, para a educadora, que estão bem, frequentando uma universidade ou um curso profissionalizante, ou que estão trabalhando em suas pequenas propriedades. “Isso é sinal que plantamos uma sementinha naquelas pessoas, como o meu pai dizia. Me marca ainda aquele abraço, o olho no olho. Isso fica guardado em mim porque entendo que nós, educadores, conseguimos entrar e ficar no coração desses estudantes.”

 

O histórico educacional da localidade é positivo, segundo a gestora, já que inúmeros alunos já saem da Casa Família Rural aprovados para o Instituto Federal do Maranhão (IFMA) ou para universidades públicas. 

 

Em relação aos desafios, Sâmara aponta de imediato o contato com uma escola rural, cujo processo de educação é diferenciado das urbanas, se dando, por exemplo, por meio da  Pedagogia da Alternância. “Tentamos sempre trazer as famílias para dentro da escola e conscientizá-las que os seus filhos e filhas podem sair daqui pequenos empreendedores, produtores rurais e com muitas outras ocupações.”

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Paloma Veras Pereira 

 

Escola: UEB Tácito Caldas

Cidade: Paço do Lumiar (MA)

Ciclo: Ensino Fundamental II 

Função: Professora

Oficialmente, Paloma Veras Pereira é educadora há nove anos. Entretanto, sua relação com educação é muito mais antiga e remonta de sua infância, quando acompanhava sua mãe, professora dos anos iniciais do ensino fundamental. Quando deu aulas particulares em casa, era Paloma quem ajudava. “Mesmo que naquela época fosse uma espécie de brincadeira, auxiliando os alunos da minha mãe, eu já estava inclinada para esse caminho.” 

 

Além de inspirar Paloma a seguir a mesma profissão, a mãe também mostrou ser exemplo de profissional, com sua dedicação, entusiasmo e vontade de ajudar os alunos, características que Paloma carrega consigo. 

 

Uma de suas principais bandeiras é o potencial da educação para mudar a vida dos estudantes.

 

“Sempre falo para eles que a maneira de transformarmos nossa realidade social, a realidade do outro e da nossa família é por meio da educação. Digo que o esforço, a dedicação, a vontade e a busca são fundamentais para que os jovens melhorem enquanto pessoas e galguem situações de vida dignas para eles. A educação é, com certeza, uma grande ferramenta para transformar o mundo.” 

 

Enquanto professora de Língua Portuguesa, Paloma se sensibiliza e deixa transparecer na fala seu amor pelo ensino das palavras e dos textos aos seus alunos. Ajudá-los em sua expressividade e trabalhar com produções textuais são seus maiores prazeres e alegrias enquanto educadora. “Quando vejo o aluno conseguir transportar seus pensamentos para o papel me marca muito. Hoje em dia, sabemos que a escrita é uma dificuldade muito grande.” 

 

Quando atuava na rede particular de ensino, alguns de seus estudantes foram campeões locais de um concurso de produção de cartas. A educadora guarda não só a experiência, mas as próprias cartas dos estudantes e seus resultados com carinho. 

 

Produzir uma educação de qualidade e que faça sentido aos estudantes é um dos grandes desafios atuais para Paloma, já que eles têm grande interesse em figuras como youtubers e tiktokers. Para a educadora, é importante conectar o mundo e o contexto em que os estudantes vivem, ou seja, repleto de mídias sociais, com os conteúdos de sala de aula. 

 

“Eu tento dar aulas utilizando equipamentos que possuo e com os recursos que a escola disponibiliza para que eles vejam que podemos fazer a educação ser bacana, algo legal e produtivo, e vejam uma sentido prático, porque os alunos dos anos finais ficam pensando ‘Estudar para quê?’. Por isso, estou tentando rechear minhas aulas de ferramentas para que possamos vislumbrar essas pontes entre universos que dialogam e de fato precisam dialogar.” 

 

A estratégia de promover conexões se materializa, por exemplo, no projeto Café Literário, que Paloma está realizando atualmente com seus alunos. A partir da leitura do livro Um Menino Negro, em formato de relato de memórias, os jovens devem produzir seu próprio livro com memórias de sua infância. Com isso, a ideia é promover a conexão entre a literatura, os conteúdos do currículo e a vivência de cada um. 

 

O empenho em seu trabalho é reconhecido por colegas, inclusive por aqueles que indicaram seu nome para a Campanha Educador de Valor. “A professora Paloma Veras contextualiza os conteúdos do Componente Curricular de Língua Portuguesa e consegue encantar os estudantes a lerem histórias e obras literárias, estimulando cada vez mais o hábito da leitura.”

 

Conhecer os profissionais de educação e fazer parte da vida na escola são as estratégias apontadas por Paloma para que a sociedade possa trilhar o caminho da valorização dos profissionais da educação. 

Região do Pará

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Aurenice de Almeida Nogueira

 

Escola: EMEIF Antônio Moreira Rocha

Cidade: Juruti (PA) 

Ciclo: Ensino Fundamental I

Função: Professora

 

Alfabetizar e fazer parte da formação de jovens cidadãos é uma das grandes paixões de Aurenice de Almeida Nogueira. Educadora desde os anos 2000, deixa transparecer a todos o seu amor pela profissão, dedicação essa reconhecida por aqueles que a indicaram para a Campanha Educador de Valor 2022: “Educador de valor é quem se dispõe a ensinar com a sabedoria de que cada aula ministrada em sala é parte de um conjunto de ações que formarão muito mais que profissionais em diferentes áreas, mas também serão a base da formação de cidadãos mais dignos e comprometidos com o dever de construir uma sociedade mais justa e feliz. E é exatamente o que a professora Aurenice representa.”

 

Além da paixão por alfabetizar, carrega consigo outras duas grandes causas: o combate à violência e à agressão e ao trabalho infantil. E engana-se quem pensa que esses temas não têm relação com educação. Certa vez, Aurenice recebeu a mãe de um estudante de sete anos, queixando-se de que o filho não obedecia. Um tempo depois, voltou à escola chorando e agradecendo à educadora por sua atitude, pois o seu filho tinha mudado muito.

 

"Às vezes, os pais só sabem brigar e chamar atenção. Então, na sala de aula, a professora dá carinho e, pronto, resolvem-se os problemas. Se tratar com carinho, vai obter carinho em troca. Se tratar com violência e ignorância, a criança vai refletir o que recebe. É da natureza humana", ressalta. 

 

Natural de Santarém, Aurenice decidiu trabalhar no interior do estado por acreditar na importância de profissionais qualificados que levam conhecimento apurado às crianças, promovendo um ensino mais equitativo. Para a professora, a educação é a única maneira de transformar positivamente a vida das pessoas. As famílias com as quais trabalha têm essa percepção e incentivam que as crianças frequentem a escola para que possam atingir seus objetivos e ter um futuro melhor. 

 

“A escola deve ser tão atrativa quanto uma novela que, quando está na parte boa, acaba, e temos que esperar o dia seguinte. Os alunos não devem falar ‘não quero ir’,  e sim ‘já quero que dê o horário porque quero ir logo'", acredita. 

 

Se hoje a escola em que atua tem mais infraestrutura, nem sempre foi assim: um barracão e tronquinhos de madeira para as crianças sentarem já foi, um dia, toda a estrutura que tinham. Ela reforça o esforço dos educadores e educadoras, que têm computador, impressora e datashow próprios, mas que, muitas vezes, precisam tirar dinheiro do bolso para apoiar na compra de materiais que faltam na escola, por exemplo. 

 

É aí que entra a valorização dos educadores. Além de mais apoio na logística - já que educadores do interior enfrentam enchentes, animais na estrada, pontes quebradas, poeira e outros desafios no caminho para a escola -, Aurenice pontua a importância de apoio para os recursos materiais e formações continuadas no interior, tendo em vista que, em muitos casos, os educadores não têm condições de participar de eventos nas cidades maiores. 

 

“Essa forma de valorização da campanha é muito interessante. Outros reconhecimentos, não só monetários, dão aquele conforto no coração ao saber que o meu esforço de vinte e tantos anos de profissão está sendo reconhecido por alguém.”

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Sival Pereira Tavares

 

Escola: EMEIF Antônio Moreira Rocha

Cidade: Juruti (PA)

Ciclo: Ensino Fundamental II 

Função: Professor e orientador 

 

“Costumo dizer que ter escolhido ser professor foi uma das melhores coisas que fiz na minha vida, porque é onde eu tenho 100% de certeza que estou contribuindo para uma formação justa e igualitária para o meu município, meu estado e meu país.” 

 

É esse gosto por ensinar e aprender que leva Sival Pereira Tavares adiante todos os dias. Vindo de uma família pobre, Sival conta que é “cria de avó”. Quando ele tinha 11 anos e sua avó faleceu, foi morar com a mãe, semi-analfabeta. A questão é que, desde menino, ele gostava de estudar. E foi nessa época, ainda enquanto aluno, que observava seus professores e os considerava maestros e maestras que passam conhecimentos. 

 

“Vejo que a educação é o melhor caminho para evitar desigualdades. Não há outro. Eu gosto muito de estudar, não somente almejando crescimento profissional, mas principalmente para adquirir novos conhecimentos, que é o principal. Costumo dizer para meus alunos que precisamos investir na educação para ‘vender’ conhecimento, e não força.” 

 

Educador há 16 anos, Sival já teve experiências suficientes para provar que a educação pode transformar a vida dos estudantes, não só economicamente, mas também em ampliar repertórios e ter uma nova leitura de mundo, com mais criticidade. Em sua vida, a educação também proporcionou momentos emocionantes, como quando teve a chance de alfabetizar uma senhora de 68 anos, que lhe disse: “Agora eu sei fazer meu nome”. 

 

Sival procura valorizar a cultura local de sua comunidade Boa Esperança em conexão à disciplina de Matemática. Uma das suas maiores motivações é que os alunos conheçam os costumes da comunidade e, com isso, possam valorizá-los. Considerando que a quarta competência da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) fala sobre “o uso de diferentes linguagens”, o professor estimula que, antes de mergulhar na Matemática, os alunos discutam, por exemplo, assuntos em alta nas mídias sociais e televisão e, a partir disso, façam conexões com temas matemáticos, como estatística, montagem de gráficos, entre outras estratégias.

 

Para tornar as atividades ainda mais interessantes para os estudantes, Sival - que também é técnico de Informática, sendo inclusive premiado por um programa de iniciação científica do Estado nessa área - traz a tecnologia para dentro da sala de aula. E é esse esforço e trabalho contínuo que levaram Sival a ser indicado na Campanha Educador de Valor 2022: “O professor Sival Tavares é muito dedicado, comprometido e bastante comunicativo. No cargo de orientador educacional, ele é o alicerce da escola, pois evita conflitos, dialoga e nunca age por impulso, além de ser bem quisto por todos os alunos e funcionários da escola”, enfatiza alguém da comunidade que lhe indicou.

 

Sobre os desafios da profissão, Sival comenta sobre a falta de interesse dos jovens em se tornarem educadores. “Quando pergunto: ‘qual é sua profissão do futuro?’, é raro encontrar aqueles que querem ser professor. Acho que há um preconceito.” 

 

Para ele, a valorização deve começar pelos governantes e pelas próprias famílias dos estudantes, já que são os professores responsáveis por formar todos os demais profissionais das outras áreas de conhecimento.

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Marcela de Souza Bentes

 

Escola: EMEIF Getúlio Vargas

Cidade: Juruti (PA)

Ciclo: Ensino Fundamental II 

Função: Professora

 

Quem conhece a história de Marcela de Souza Bentes na educação não imagina que sua trajetória, que já soma 15 anos, começou de uma forma desafiadora. Marcela decidiu cursar o antigo magistério quando teve que retornar de Manaus, onde trabalhava, para o Pará, a fim de apoiar sua mãe, quando sua irmã faleceu. Apesar da intensa tristeza do momento, Marcela decidiu estudar para não ficar parada e, durante o curso, foi gostando da ideia de ser professora. 

 

Entre idas e vindas entre Manaus e Pará, a educadora passou em um concurso público para cursar História e Geografia. Em 2011, entrou para o quadro de funcionários efetivos da Prefeitura de Juruti e já começou com grandes e importantes vivências. Sua primeira turma foi de estudantes com algum tipo de deficiência, o que rendeu aprendizados e memórias. Marcela cita outros momentos marcantes em que aprendeu muito com seus alunos. Certa vez, escreveu no quadro as profissões mais desejadas, quando um deles disse que a sua não estava ali. 

 

“Quando perguntei qual era sua profissão, ele disse: ‘pescador’. Isso me marcou muito porque eu não estava olhando para a minha própria comunidade, onde tem o pescador, o agricultor, a dona de casa. Na minha cabeça, achava que os alunos iriam querer outras profissões. Esse estudante queria ser pescador porque via essa figura no pai.” 

 

Para Marcela, é a partir do momento que o aluno descobre que pode ser o autor de sua vida e consegue realizar seus sonhos a partir da educação, com mais conhecimento e estudos, que se abre um leque de novidades e possibilidades à sua frente, o que aconteceu com ela mesma, que vem de uma família da zona rural. 

 

Enquanto professora, tenta mostrar aos seus alunos as potencialidades da Amazônia, reforçando que não é necessário sair da comunidade para sustentar a família, e sim aproveitar os recursos naturais do local para viver. 

 

“Sempre falo para eles: na Amazônia tem a floresta, as águas, os rios, frutas, sementes, animais. Se trago uma horta para o quintal da minha escola, mostro que é possível trabalhar com o cultivo, por exemplo, que não é preciso ir embora para a cidade. A Amazônia é praticamente o coração do mundo e temos muito para descobrir e mostrar aos alunos”, comenta.

 

Seu amor e respeito ao meio ambiente é um de seus maiores destaques, reconhecidos pela comunidade e por aqueles que a indicaram na Campanha Educador de Valor 2022: “Marcela está sempre engajada nos projetos comunitários e de braços abertos a novas ideias, trabalhando com a educação do campo. Uma de suas bandeiras é a Amazônia. Procura atuar de forma inovadora, com disciplina e responsabilidade, e luta em defesa de políticas públicas para o desenvolvimento da região. É uma professora exemplar que dá orgulho a sua comunidade.” 


 

Entre os desafios que enfrenta diariamente para dar aula, como a chegada até a escola em meio a uma estrada difícil, a falta de transporte e merenda escolar, material didático, sinal de internet e tecnologia, Marcela fala sobre como não há um currículo específico para a zona rural, que precisa adaptar conteúdos da zona urbana. 

 

“Fazer educação na Amazônia é muito difícil. Acho que o principal tópico é o desenvolvimento de políticas públicas para a educação do campo, da Amazônia, da população ribeirinha, para que o professor tenha suporte em sala de aula.”

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Eidelane Sousa da Silva

 

Escola: EMEIF José Roberto Pimentel

Cidade: Juruti (PA)

Ciclo: Ensino Fundamental I e II

Função: Professora

 

Para Eidelane Sousa da Silva, falar de educação é falar de dedicação. Essa é, inclusive, uma das palavras usadas para descrever a professora por aqueles que a indicaram na Campanha Educador de Valor: “É uma pessoa dedicada, comprometida e proativa com as atividades escolares na qual atua. Realiza campanhas, incentiva os alunos, desenvolve projetos como o cantinho da leitura e incentiva o cultivo sustentável.” 

 

Nascida na comunidade Café Torrado, na zona rural de Juruti, foi trabalhar na cidade, onde fez magistério para ser professora, cursou Pedagogia, Química e Biologia e fez pós-graduação em Psicopedagogia Institucional com ênfase em Educação Especial. Tudo isso motivada pelo contato com as crianças de sua comunidade, que tinham muita vontade de aprender. 

 

A educadora tinha a chamada dupla jornada: trabalhava na comunidade e estudava em Juruti, e percorria, ida e volta, a distância de 18 km entre as cidades todos os dias.

 

“Eu percebia que o acesso à educação era muito difícil para as crianças da comunidade. Todas com anseio de sabedoria, se aproximavam de mim ao ver meu trabalho. Notei que eu tinha um potencial e fui me apaixonando pela profissão.”

 

Além de esforço e dedicação, para Eidelane também não é possível falar sobre educação sem citar a família. Quando formou-se professora, teve a oportunidade de dar aulas para os nove irmãos e a mãe, que tinham estudado até a antiga quarta série do Ensino Fundamental. “Foi muito interessante porque tínhamos uma relação de professor e aluno. Eles aceitaram meu trabalho e se interessaram em voltar a estudar. Todos chegaram até o nono ano e alguns fizeram até o Ensino Médio. Para mim foi marcante porque minha família abraçou a ideia, percebendo que a educação é capaz de promover mudanças.” 

 

Assim como sua família, muitas pessoas do município também estão formadas, esperando uma oportunidade no mercado de trabalho. É o caso de muitos ex-alunos de Eidelane que, por inspiração dela e de outros educadores, seguiram a mesma profissão e, hoje, participam de atividades como voluntários, dão novas ideias a partir de suas visões e formações diferentes e criam projetos colaborativos. 

 

Essa inspiração que motivou Eidelane a entrar no mundo da educação e agora incentiva outros alunos, tem relação com o fato de que a professora leva a educação a todos os lugares que frequenta, sempre com cuidado e atenção para oferecer o seu melhor para as crianças, a comunidade e a sociedade. 

 

Isso inclui se aproximar dos alunos e de suas famílias, de forma a conhecer em profundidade  as realidades de cada um e, assim, entender melhor seus desafios e realizar um trabalho direcionado. 

 

Por ser professora de Ciências Naturais no Ensino Fundamental II, ela incentiva que os estudantes busquem materiais alternativos na natureza para suprir a necessidade de materiais a serem comprados, que muitas vezes não é possível por falta de recursos ou a longa distância de Juruti. “Se precisamos, por exemplo, de um painel, mas não temos dinheiro para comprar, podemos tirar duas palhas de uma palmeira, sem derrubá-la e tecer uma esteira. Isso é importante porque as crianças já crescem com a visão da sustentabilidade, que podemos usar da natureza sem destruí-la.”

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Iraci Batista de Araújo Lima 

 

Escola: EMEF Paulo Rodrigues dos Santos

Cidade: Santarém (PA)

Ciclo: Ensino Fundamental I 

Função: Professora 

 

Magistério, faculdade de Letras e de Pedagogia, pós-graduação em Gestão Escolar e especialização em Educação para pessoas com deficiência são as formações que guiaram o caminho de Iraci Batista de Araújo Lima em sala de aula desde 1997. Filha de pais analfabetos, ouvia em casa que ‘ler uma carta e conseguir responder’ já estava bom demais. Mas Iraci não se contentava com isso e não queria que outras pessoas se contentassem também. 

 

“No meu ponto de vista, a educação é o caminho que te leva para realizar não só os seus sonhos, mas os do aluno também. Você pode fazer a diferença na vida dele, pode colaborar para que tenha uma visão diferente de mundo. Sempre digo para meus estudantes que a vontade de crescer não está no posicionamento social, mas sim na sua vontade: se você quer, consegue mudar sua história. Eu mudei a minha. Realizei meu sonho de ser professora, amo minha profissão e a cada dia quero fazer a diferença.”

 

Para Iraci, somente quem ama educação sabe o valor que tem ensinar uma criança a ler e escrever para que consiga acompanhar a turma. Apaixonada por sua área de atuação, para ela não há felicidade maior do que contribuir com a formação de uma criança. Ela conta que trabalha diariamente para que seus alunos saibam que são capazes, porque o “futuro reserva algo melhor quando alguém se dedica aos estudos”. 

 

A educadora carrega consigo a história de um estudante que conheceu quando foi substituir um colega professor. Já no terceiro ano do Ensino Médio, o estudante tinha muita dificuldade em redação e acreditava que não era capaz de escrever um texto. Iraci se colocou à disposição e disse que o ajudaria se ele quisesse. O trabalho foi árduo e o menino se empenhou de uma forma espetacular, como conta Iraci. 

 

“Quando eu estava fazendo meu curso de Pedagogia na Ufopa [Universidade Federal do Oeste do Pará], subi as escadas da universidade quando ouvi: ‘Oi professora, você não lembra de mim?’. Lembrei que era o aluno da redação, ao que ele me disse: ‘Professora, eu consegui passar. Hoje faço curso superior!’. Ver aquele menino de periferia que dizia que não iria conseguir é um dos motivos porque quero contribuir cada vez mais para que meus alunos entrem na faculdade.” 

 

Na visão de Iraci, o que um profissional da educação deve sempre almejar, independente se sua atuação é em uma escola particular ou pública, é fazer com que um aluno adquira conhecimentos e habilidades e seja aprovado.

 

O empenho e dedicação de tantos anos à educação é reconhecido por colegas e pessoas que a indicaram à Campanha Educador de Valor: “A relação professor-aluno é uma troca, já não existe a postura impositiva. Hoje, a empatia é fundamental no processo de ensino e aprendizagem. Ainda que a qualificação e preparação profissional sejam importantes, o professor deve ter um perfil que potencie suas qualidades, que junto com o trabalho e a dedicação, o torne um profissional mais humano. Sem dúvida alguma o trabalho da professora é pautado no cuidado, na empatia e no afeto. Outro ponto importante é o respeito mútuo em sala de aula com seus alunos, sem ser autoritária, longe de qualquer forma de violência. É uma entusiasta da educação, sempre surpreendendo a comunidade escolar com atividades voltadas para o desenvolvimento e aprendizagem dos alunos.” 

 

Para valorizar mais o trabalho dos profissionais da educação, Iraci acredita na importância da parceria das famílias e responsáveis, que devem se fazer presente na escola e apoiar seus filhos, por exemplo, em tarefas para casa e trabalhos propostos. Além disso, a realização de campanhas públicas que incentivem a educação, conscientizem sobre a importância de estudar e da colaboração entre comunidade e escola é um instrumento válido, segundo a educadora.

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Clícia Dalla Rosa

 

Escola: Escola Municipal Wilson Hedy Molinari

Cidade: Poços de Caldas (MG)

Ciclo: Ensino Fundamental I

Função: Professora

Ela entra em sala de aula, pela manhã, sempre cantando “Bom dia, o sol já nasceu lá na fazendinha”. E se você é aluno ou aluna dela, provavelmente já sabe de quem estamos falando: Clícia Dalla Rosa, professora do Ensino Fundamental I, da Escola Municipal Wilson Hedy Molinari, situada no município de Poços de Caldas (MG). A educadora é conhecida por sua alegria contagiante.

Prestes a completar 30 anos de sala de aula (e comemorar suas bodas de pérolas), Clícia tem como referências no campo educacional a mãe e a tia, as quais ajudava, desde cedo, a preparar as aulas e a organizar os materiais didáticos. Em meio a isso, ela entendeu que não bastava mais ser professora apenas de suas bonecas, pois queria ser como as suas inspirações femininas.

​No período do Ensino Médio, fez o magistério e teve a oportunidade de atuar, inicialmente, aos 17 anos de idade, como secretária de uma escola particular em Alfenas (MG), mas o desejo de ser professora continuava latente. Alguns meses depois, entrou na sala de aula e nunca mais saiu. Em Poços de Caldas, a educadora já acumula 17 anos de trabalho, sendo os últimos cinco na EM Wilson Hedy Molinari. 

É engajada, acolhedora e humana. Essas palavras são bastantes utilizadas em referência à Clícia por algumas pessoas que preencheram o formulário de indicação da Campanha Educador de Valor. 

“Ela tem uma capacidade ímpar em compreender o comportamento das crianças nos momentos em que mais precisam. Sua percepção em relação a isso já ajudou muitas crianças a se sentirem amparadas e, desta forma, motivadas a se desenvolverem. Sua dedicação aos estudos comportamentais das crianças a leva a um nível diferenciado de profissional.”

A professora não mede esforços  para que o seu ambiente de trabalho seja alegre e contribua com o aprendizado dos estudantes. As últimas mudanças dela foram a compra de uma cortina e um relógio para a sua sala de aula, que combinam com o armário. Como ela mesma diz, parecem coisas pequenas, mas que, pouco a pouco, ajudam as crianças a se sentirem mais abertas a aprender, principalmente no pós-pandemia.

“Percebo que os alunos retornaram às aulas presenciais fragilizados, com medo de estar dentro da escola, com medo do vírus, e com o psicológico do avesso. Tenho proporcionado conversas sobre os sentimentos de cada um. O desafio é tentar nos preparar para auxiliar o emocional das crianças, algo gritante depois do período de isolamento social”, analisa.

Nesse espaço de troca de saberes que é a escola, Clícia, além de ensinar, exerce a escuta das alegrias e anseios de crianças e adolescentes. “Eu percebo que muitos alunos têm em mim uma confidente e conselheira. Mesmo aqueles que já passaram pelas minhas turmas voltam e falam comigo, me dão abraços, conversam, desabafam. É uma relação de confiança.”

A educadora conta que ao receber a indicação para a Campanha Educador de Valor 2022 sentiu “mil emoções”. É o reconhecimento de uma profissional que não  consegue se ver em outro lugar. “Eu gosto é do chão de sala de aula. É onde eu quero, com as crianças, sentir essa energia, aprender e ensinar”, enfatiza.

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Edivânia Cristina Dias

 

Escola: Escola Municipal de Educação Básica José Pereira da Silva e Escola Municipal de Educação Básica Euclides da Cunha

Cidade: Divinolândia (SP)

Ciclo: Ensino Fundamental II

Função: Professora

Em apenas três anos de sala de aula, Edivânia Cristina Dias já acumula inúmeros aprendizados, principalmente por ter iniciado a sua carreira justamente quando a pandemia de Covid-19 começava a assolar o Brasil e o mundo. Em um período difícil e repleto de desafios, quando todas as pessoas precisaram se reinventar, o reconhecimento da jovem professora de Matemática da Escola Municipal de Educação Básica José Pereira da Silva pode ser traduzido em mensagens como essa abaixo: 

“Sua principal característica é, além da inteligência, a empatia. Ela é uma profissional transformadora, aquela professora capaz de mudar a vida de um aluno para melhor.” Essas palavras chegaram junto com a indicação de Edivânia para a segunda edição da Campanha Educador de Valor. 

Três anos podem até parecer pouco tempo, mas a educadora já acumula muitas histórias, aprendizados e realizações. Na escola da zona rural de Divinolândia, os desafios para driblar os impactos da Covid-19 foram maiores que nos centros urbanos, a começar pelo difícil acesso à internet e a aparelhos como computadores, tablets ou celulares. 

“Educar de forma presencial, com certeza, é muito melhor”, afirma a professora que mal começou a sua carreira e já viu a modalidade de ensino mudar radicalmente. “Parece que as crianças estão meio ‘enferrujadas’ após o período de educação em casa. Os estudantes voltaram com muito mais dificuldades, e temos desafios como prender a atenção dos alunos e tentar sanar a defasagem de ensino do online.”

Ser professora de Matemática era um sonho de criança de Edivânia, e uma das pessoas que sempre a incentivou foi a educadora Lucimar Mascarin. Quando ainda cursava o 4ª ano, Edivânia, por ter um bom desempenho escolar, foi convidada a auxiliar a sua mestra com as aulas de reforço. 

A partir dali, a vontade de ser educadora ficou cada vez mais forte. Após terminar o Ensino Médio, a jovem teve que esperar por longos cinco anos até entrar para o curso de Matemática no Centro Universitário da Fundação de Ensino Octávio Bastos (UNIFEOB), em São João da Boa Vista (SP). Foi demorado, pois faltava o número suficiente de alunos para iniciar uma turma, além da busca pelo financiamento estudantil. 

Como professora, Edivânia segue contratada pelo município para atuar na escola rural, local repleto de aprendizados e superação de desafios à educadora. ​E é a evolução de seus alunos que a motiva, a cada início de ano, a fazer uma avaliação para continuar a integrar o quadro profissional da prefeitura.

“Temos que pensar em mil e uma metodologias diferentes. Uma das estratégias é levar as crianças a diversos ambientes para aprenderem, como na biblioteca, e inserir mais a tecnologia nas aulas. Os estudantes adoram mudar de ambiente, vivenciar novas experiências. Eu também tento levar materiais de ensino diferentes para a sala, e utilizar para fazer tarefas de colagem. É preciso se reinventar sempre”, aponta.

Com essa dedicação ao exercer a sua profissão, Edivânia diz se sentir honrada e grata pela indicação à Campanha, e explica: “Foi a dona Lucimar que me deu a notícia, e dessa vez eu não esperava. Isso muda até o olhar das pessoas para a gente. Eu me cobro muito, e há algumas semanas eu estava pensando muito em como fazer mais para os meus alunos. Da mesma forma como a Lucimar me marcou e me ensinou, eu quero marcar alguém.”

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Karen Gonçalves de Lima 

Escola: Escola Estadual Souza Novais
Cidade: Caldas (MG)
Ciclo: Ensino Fundamental II

Função: Professora

Até o início de 2022, a professora Karen Gonçalves de Lima estava desempregada e sem perspectivas de alguma contratação em sua área. A confiança e a esperança, no entanto, não a deixaram se abater, já que ela tem consciência de sua capacidade profissional.

“Acho importante a gente crer em algo e ser grato, para mim, em Deus. Um dia questionei: até quando ficarei sem trabalhar? E Deus me mostrou que neste ano muitas coisas mudariam, e olha onde estou, que maravilha!”, relembra Karen, educadora há 8 anos. 

Formada em Pedagogia pela Fundação Hermínio Ometto e cursando o último ano de Educação Física pela Universidade Federal de Juiz de Fora, Karen também ensina capoeira e mantém um projeto social na periferia de onde vive. Originária de uma família capoeirista atuante na região, esse foi um elemento chave para que pudesse seguir a carreira escolar. 

“Eu sonho em ser professora desde criança. Acho que nasci para ser educadora. Sempre tinha que ter um quadro e um giz em minhas brincadeiras. Mas o que mais me levou para a escola foi a capoeira. Para poder trabalhar com ela, é preciso ter um certo preparo educacional, e isso foi me conduzindo para a sala de aula. É um esporte que nos instiga a passar ensinamentos para as pessoas e exige de nós disciplina e o desejo de aprender. Se eu não estiver fazendo algo para alguém, não sou eu”, destaca Karen.

Retornando ao ano de 2022, a vida da educadora começou a mudar quando ela teve a ideia de transformar a sala de sua casa no "Espaço Criativo do Saber" para receber estudantes com dificuldades de aprendizagem devido ao isolamento social da Covid-19. Ela anunciou as aulas de reforço no Facebook e 10 minutos depois já surgiu o primeiro aluno. Atualmente são 20.

"A professora Karen analisou individualmente como estava o nível de conhecimento de cada aluno e as suas carências, para melhor atendê-lo. Motivadas, algumas das crianças mudaram aquele estigma de 'piores alunos da sala'. Teve aluno que até se emocionou no último dia de aula", escreveu, uma pessoa, no formulário de indicação para a Campanha Educador de Valor 2022. 

Este sem dúvida é um ano histórico na vida dessa educadora, mas ela aponta outro fato que a marcou: a formatura. "A minha mãe não tinha condições de pagar uma universidade para mim, e eu só fui conseguir pagar quando já tinha os meus filhos e estava casada. Eu era a única negra na minha sala, e isso me movia. Depois que me formei, a motivação vem do olhar das crianças que agora, mais que antes, têm uma demanda de carinho, e se apegam à gente. É linda essa troca de amor que temos com os alunos."

Caminhando para uma década de vida escolar, Karen crê que o maior desafio para a sua profissão é a valorização dos educadores, principalmente por, segundo ela, ter governantes que desvalorizam o campo educacional, fazendo cortes orçamentários. Em contrapartida, ela se anima ao ver iniciativas como a Campanha Educador de Valor.

“Esse reconhecimento do ensino e dos profissionais passa pela sociedade. Todo mundo tem que valorizar porque a formação para qualquer profissão é de responsabilidade dos professores. Nós, sejamos professores ou não, sempre estamos ensinando algo a alguém. E a gente pode valorizar participando da vida escolar, visitando a escola, vivenciando o dia a dia do aluno. Essas pequenas ações da sociedade já te deixam mais felizes", enfatiza Karen.

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Marcélia Leal Silva  

Escola: C.E Lucia Chaves

Cidade: São Luís (MA) 

Ciclo: Ensino Fundamental II 

Função: Professora 

“Com ela aprendi a gostar de estudar e a valorizar os momentos na escola. Aprendi que compartilhar conhecimento é valioso e ela faz além. Ela busca nos fazer felizes”. “Ela foi minha melhor professora. Nunca nos tratou mal, muito pelo contrário: enxergava a gente. Os projetos que fazia eram sempre pensando na nossa condição social, tentando nos incentivar a estudar. Queria que vencêssemos e não media esforços para nos levar ao museu, cinema. Ela mudava nossa rotina.” 

 

Ler os depoimentos de alunos que indicaram Marcélia Leal Silva para a Campanha Educador de Valor 2022 não deixa dúvidas sobre sua vocação enquanto educadora. 

 

Depois de 26 anos de profissão, é inegável seu amor e dedicação ao ato de educar. “Eu falo para os estudantes: a educação vai abrir sua mente e te preparar para o mundo. Você vai trabalhar a sua personalidade. Uma pessoa instruída e educada é totalmente diferente de quem não é. É a partir dela que eles irão construir uma identidade que, de outra forma, não conseguiriam. Apesar de todas as dificuldades que enfrentamos na educação, não vejo outra forma para que as pessoas passem por essas transformações positivas.”

 

Marcélia acredita que os educadores são exemplos e pessoas fundamentais na trajetória dos seus estudantes.

 

“Nós temos grande responsabilidade, pois somos exemplo para tudo: desde a vestimenta até o jeito de falar. A função do educador é orientar para que os alunos tomem decisões que sejam importantes lá na frente. Além de passar conteúdos, devem contribuir na construção da personalidade de cada um, já que os alunos ficam mais tempo na escola do que em casa. Somos como uma referência para eles.” 

 

A empolgação que transparece no jeito de Marcélia falar também é notada em seus trabalhos. Além de desenvolver um projeto social na comunidade, a educadora é responsável, na escola, por um projeto que une o ensino de Inglês e Educação antirracista. Ao invés de apresentar aos estudantes músicas com letras não relevantes, a educadora leva músicas africanas cantadas em inglês e reggae, todas abordando a questão da liberdade. O projeto também envolve análise e leitura de biografias de personalidades, como Martin Luther King, Nelson Mandela e Barack Obama. 

 

O projeto surgiu da necessidade de fazer com que a Língua Inglesa fizesse sentido aos estudantes, uma vez que Marcélia atua em uma zona periférica onde mais de 90% da população é composta por pessoas negras que se questionavam: “Vou aprender inglês para que?”.

 

A proposta envolve jogos de tabuleiro e a elaboração de um dicionário e revista em quadrinhos com super-heróis negros. Marcélia conta que aprende junto com os alunos, que estão se sentindo valorizados porque notam que o espaço escolar tem a ver com sua história de vida.

 

Marcélia conta com emoção a história de um estudante que estava quase evadindo da escola. Aluno negro que passou por diversas dificuldades na vida pessoal, foi morar com a tia e não encontrava estímulos em casa, até se envolver com o projeto na escola. “Depois que começou a participar da iniciativa, seu desempenho melhorou em todas as disciplinas. Agora se arruma para ir à escola, cuida do seu cabelo, então também impactou na autoestima. Ele encontrou no projeto uma oportunidade de se reconhecer e se identificar. Trabalhar com ele me marcou muito.”

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Região de Minas Gerais e São Paulo

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Quézia Pires Domingos Oliva

 

Escola: Escola Municipal João Pinheiro

Cidade: Poços de Caldas (MG)
Ciclo: Ensino Fundamental I

Função: Vice-diretora 

 

Ao ser questionado em uma entrevista sobre “qual líder o inspira”, Mizael, de 19 anos, respondeu logo: “A minha mãe”. E a mãe dele é Quézia Pires, com 30 anos de carreira escolar. Atualmente em seu primeiro mandato como vice-diretora da Escola Municipal João Pinheiro, em Poços de Caldas (MG), a educadora também já foi diretora da Escola Municipal Wilson Hedy Molinari, coordenou quatro creches, atuou diretamente na Secretaria Municipal de Educação e, claro, não deixa de ser professora.

 

Quézia não só tem uma longa experiência em vários âmbitos educacionais, como também se preparou para estar nesses espaços: é formada em Pedagogia e Letras, e possui pós-graduação em Educação Especial, Psicopedagogia e Educação Infantil. “Assim como eu fui incentivada dentro de casa, eu também o incentivo muito”, explica a vice-diretora sobre o filho.

 

E uma dessas grandes apoiadoras da carreira de Quézia foi e é a irmã Celina Pires, que a ajudou financeiramente com a Faculdade de Pedagogia, principalmente no primeiro ano. “Até hoje ela me incentiva muito na educação, e sempre fala para eu fazer o mestrado”, conta.

 

Durante suas atuações como gestora, Quézia sempre tentou melhorar a estrutura dos espaços que acolhem as crianças, adolescentes e jovens. Por isso, ela se diz determinada em buscar melhorias que atendam bem aos alunos. 

 

“Em parceria com a Alcoa conseguimos um projeto para construir o muro da Escola Wilson Hedy Molinari, que antes era invadida por diversos animais. Também fizemos o refeitório. Já em uma das creches, o telhado deteriorado se tornou moradia de pombas e, em parceria com a Prefeitura, conseguimos trocá-lo. Eu sou uma pessoa que gosta de desafio, não fico esperando, eu corro atrás mesmo.”

 

A participação social na escola, tanto de professores, alunos, família e comunidade em geral é algo que merece ser destacado no município de Poços de Caldas, segundo a educadora. “Não adianta só eu correr atrás de algo se não tiver todas essas pessoas ao meu lado. A comunidade tem que aderir, se encantar com a ideia, e contribuir para que todos participem.”

 

Um dos momentos mais marcantes da carreira da Quézia foi quando ela, juntamente com a comunidade escolar, conseguiu, por meio da família Molinari, há 17 anos, a banda para a Escola Wilson Hedy Molinari.

 

“A conquista da banda era algo que não esperávamos, e quando saímos para desfilar na cidade foi uma honra tão grande. As pessoas achavam que era uma banda de fora de tão linda que estava. A escola já tinha a banda, mas era muito pequena, já que fomos formando aos poucos, ganhando instrumentos e comprando outros. Fizemos uniformes para todos os participantes da banda, cerca de 50 pessoas”, destaca a educadora.

 

Atualmente, após dois anos da maior crise sanitária do país, a gestora enxerga que o período de isolamento social afetou as crianças, tanto o psicológico quanto o aprendizado. Ela aponta que o desnivelamento de aprendizagem é mais gritante ao analisar as classes sociais de cada aluno. “Neste primeiro semestre, por exemplo, tivemos que ensinar regras básicas de convivência escolar, já que muitos estudantes não tinham tido nenhum contato com instituições de ensino, nem com a creche. Já no segundo semestre, a caminhada em relação ao aprendizado foi melhor”, analisa.

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Roberto Henrique Ramiro

 

Nome: Escola Municipal Wilson Hedy Molinari

Cidade: Poços de Caldas (MG)
Ciclo: Ensino Fundamental I

Função: Professor

 

Roberto Henrique, ou apenas Beto, era daquelas crianças fissuradas em ficção científica. Tudo desse universo o atraía, verbo que pode ser conjugado ainda no presente e futuro. Naquela época, ele sabia o que queria ser quando crescesse, e errou quem pensou em astronauta ou algo do gênero. Ele queria ser mesmo era professor. 

Foi uma longa trajetória para que o sonho de garoto se tornasse realidade e completasse, em 2022, 10 anos. Beto cursou o antigo Magistério, depois, fez Ciências Biológicas, e se formou em 2015, e emendou com Pedagogia na Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG), Polo de Poços de Caldas. Por fim, se especializou em Gestão Educacional. 

O jovem professor, com 29 anos atualmente, começou a sua trajetória como educador no berçário e na Educação Infantil. Depois, passou a atuar na Escola Municipal Wilson Hedy Molinari, a mesma que frequentou da 2ª a 8ª série. Já são oito anos de sala de aula nesse espaço. “Os meus colegas de trabalho são, em maioria, os meus ex-professores”, conta.

Além do desejo e curiosidade de criança para trilhar esse caminho, algumas pessoas inspiraram a sua trajetória: a mãe Regina, que mesmo tendo cursado apenas até a 4ª série e enfrentando muitos desafios na vida, foi a base e a incentivadora maior do Beto, por ensinar a ele o valor da educação. “Ela é uma leitora voraz, que sempre me incentivou”, diz. 

A professora Catarina, a diretora da escola onde atua e educadora reconhecida pela Campanha em 2021, Ana Maria Lobo, e a orientadora no curso de Pedagogia, Solange, são as  educadoras que Beto carrega consigo como fortes inspirações.

Com tantas referências e uma década de caminhada educacional, o professor acredita que a educação “é um agente de modificação da vida.” E ele explica o significado dessa frase: “Venho de uma família bem simples, sendo o primeiro a ter uma graduação. Vi que a minha vida mudou assim como de pessoas ao meu redor. A educação me deu um norte e fez com que eu buscasse os meus objetivos de vida.” 

Com tantos anos de dedicação, aquela criança sedenta por saberes científico pode ler mensagens como essa em referência ao seu trabalho: “O Roberto Henrique é sem dúvida um educador de valor, talvez o melhor que eu já conheci. Ele é dedicado, inovador e sempre tem o melhor diálogo e didática com os seus alunos, um exemplo de amigo e de professor”, manifestou uma das pessoas que o indicou para a Campanha Educador de Valor 2022.

Ao longo da sua trajetória, o educador já foi homenageado quatro vezes por seus alunos, mesmo quando foi professor substituto. Ele avalia que esse reconhecimento, tanto de campanhas como dos próprios estudantes, dão “gás para continuar o nosso trabalho e sermos melhores ainda”. 

“Eu sinto que a minha obrigação como professor é mostrar que os conteúdos que eu estou ali para passar são importantes e úteis aos alunos. Por isso, tento transmiti-los da melhor forma possível: uma educação totalmente fora da caixinha, com métodos às vezes lúdicos e com o auxílio da tecnologia. Eu gosto muito de trabalhar com experiências nas aulas, e tento trazer para o prático, mesmo sabendo, claro, da importância do teórico”, afirma.

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